A paz selada por Serafinistas e Dolabelistas

Cel. Serafim Tibúrcio e Frederico Dolabella selaram a paz entre seus
grupos políticos em 1903

Neste final de semana o país comemora o Sete de Setembro, dia da Independência do Brasil. E a cidade de Manhuaçu não é diferente das demais, com o já tradicional desfile acontecendo neste feriado nacional. E a atual Administração, que desde o início de sua gestão tem procurado enaltecer o movimento revolucionário liderado pelo coronel Serafim Tibúrcio da Costa, decidiu brindar a população com um desfile temático, tendo a ‘República Manhuassú’ como destaque.
Coincidindo com a apresentação do desfile que acontece na região central da cidade, a coluna ‘Na Lente da História’ nas próximas linhas estará encerrando um ciclo sobre este tema que foi abordado na primeira edição desta coluna e também nas últimas seis semanas, quando retornou para contar os mesmos acontecimentos pela ótica do grupo político que fez oposição ao coronel revoltoso.
O encerramento deste ciclo, pela grandeza que foi este movimento para a nossa região e pela natureza belicista como as coisas se desenrolaram por alguns anos que antecederam e outros tantos que sucederam à revolta, irá abordar o evento que ocorreu nestas terras já nos primeiros anos do século XX, para selar a paz entre os dois grupos que encabeçaram a contenda.
Já foi abordado aqui, que Serafim Tibúrcio da Costa era uma espécie de ‘afilhado’ político do grupo que o combateu no ano de 1896. Este grupo que lhe deu espaço para galgar a carreira política no ano de 1890 e que permitiu ao coronel chegar ao cargo de vereador por Manhuaçu, foi o mesmo grupo que a partir de sua eleição como presidente da Câmara Municipal e consequentemente Chefe do executivo em 1892, se afastou dele devido à disputa pelo poder.
Serafim sabia de sua popularidade e conquistava cada vez mais correligionários. Isso permitiu que ele pudesse abrir mão de seus ‘padrinhos’ políticos. E a oligarquia que se alternava no poder local mesmo durante a monarquia, olhava com preocupação a ascensão daquele homem. E as consequências desta disputa foi a revolução promovida pelo coronel Tibúrcio. Mas o que foi pouco falado e que é desconhecido por grande parte dos leitores, é o fato de que alguns anos após o movimento, os dois grupos se encontraram em uma festa promovida justamente para sepultar em definitivo as desavenças entre os dois lados.
O coronel Tibúrcio se refugiou no Estado do Espírito Santo após ser expulso da cidade pelas forças mistas estaduais e federais. E assim como fez aqui, quando chegou originário de Jequeri, ele novamente galgou espaços políticos e notoriedade entre a população da região de Afonso Cláudio, vindo a se tornar também naquele município o presidente da Câmara Municipal e Chefe do Executivo. E apesar de chegar a Manhuaçu poucas informações sobre ele, a população não se esquecia nunca daquele notável homem e líder político. Principalmente nos períodos eleitorais, quando seu nome era constantemente lembrado, mesmo pelos oposicionistas.
Os responsáveis pelo jornal ‘O Manhuassú’ eram companheiros leais de Tibúrcio e lhe rasgavam extensos e constantes elogios, fazendo comparações aos grupos que administravam os cofres públicos. 
Para se manter fiel a este acontecimento, segue abaixo, transcrição do trecho do trabalho de pesquisas realizado por equipes de estudantes da então Escola Normal e Colégio Tiradentes e que foram orientados pelo Sr. Ary Nogueira da Gama, que por sua vez foram transcritos de uma edição do jornal ‘O Manhuassú’.
“Em retribuição aos elogios que lhe eram feitos e como gratidão ao povo desta cidade que ele tanto amava, aqui compareceu a 12 de agosto de 1903, vindo de sua fazenda em Afonso Cláudio, hospedou-se em casa de seu dileto amigo Cel. José Bento Barbosa, onde recebia a visita de seus antigos correligionários”.
“Pode-se dizer sem receio de erro – a cidade esfumaçou-se pelo estrondar de foguetes, por tiros de dinamite, prolongados, por muito tempo até ao romper d’aurora do dia seguinte em que, depois de um reforçado soirée, procedido de um lauto banquete, ocasião em que foram salientados por todos os circunstantes os elevados merecimentos de tão honrado cidadão. Retirou-se a banda de música que fora cumprimenta-lo, o Cel. Serafim Tibúrcio, estava sempre rodeado de inúmeros amigos, que não o deixou nem repousar, sendo de espaço a espaço vitoriado com entusiásticos vivas”.
“Iguais demonstrações se reproduziam no decorrer dos dias quatorze, quinze, dezesseis e dezessete, intercalada por uma assombrosa soirée na noite do dia quinze”.
“Durante o dia dezoito, circulou uma notícia da chegada do Cel. Frederico Dolabella, que em misteres de sua proverbial filantropia se achava em lugar distante”.
“Reunidos então os seus amigos e os do Cel. Serafim Tibúrcio em entusiasmo geral, em vibrantes sentimento de coletivismo patriótico, trataram de promover a aliança dos dois antagonistas de outros tempos”.
“A justiça manda que diante de tanta magnitude um voto de público reconhecido seja manifestado ao tenente-coronel José Bento Barbosa pela ideia cuja realização se impôs, como bandeira política da paz e da ordem na administração”.
Para este acontecimento, o Sr. Ary Nogueira da Gama declara em suas pesquisas que foram encontradas correspondências de ambas as partes , capazes de comprovar a veracidade deste fato. E o nobre historiador manhuaçuense destaca em um parágrafo: “Por este fato marcante da história de Manhuaçu, podemos conhecer uma outra qualidade daqueles chefes políticos, que não imaginávamos serem possuidores”.


Publicado em 08 de setembro de 2013.